18/06/2013 18h21
No encerramento da reunião do Conselho da Cidade, o prefeito Fernando Haddad disse que a administração tem o dever de informar a sociedade sobre as conseqüências da proposta de congelar a tarifa de ônibus em R$ 3. Segundo ele, não existirá “caixa preta” no setor e há disposição para discutir a margem de lucro das empresas concessionárias.
A seguir, veja a transcrição da fala de encerramento do prefeito Fernando Haddad na reunião do Conselho da Cidade (material bruto sem edição).
Gente, deixa eu falar uma coisa para vocês. Eu conheço os truques todos de assembleia porque eu fui do movimento estudantil e eu não vou usar nenhum truque aqui. Quando vocês relutaram em vir para cá, para esse conselho, vocês acharam que nós fôssemos fazer um conchavo para a gente deliberar alguma coisa que contrariasse o desejo de vocês. Vocês relutaram muito em vir para cá, eu vi nos jornais. E relutaram, acharam que aqui não era o lugar adequado. Falaram que aqui não é um lugar deliberativo. E não é mesmo. E agora vocês gostariam que fosse. Vieram para cá dizendo que aqui não era um lugar para deliberar, mas se pudessem voltar atrás, voltariam. Gente, eu estou dizendo que eu não vou fazer um truques desses que vocês aprenderam, eu aprendi há mais tempo que vocês.
Estou falando com vocês o seguinte: essa questão que o Tatto colocou, e eu quero aqui defender a fala do Tatto porque o Tatto, como secretário de Transportes da Marta, talvez seja o cara que mais fez pelo trabalhador pobre da cidade de São Paulo com o Bilhete Único. Vocês viram ali, quando viram uma conta dizendo que a tarifa teria que estar a R$ 2,16 na comparação com 1994 pela inflação, se você pegar a integração, que é a passagem que a pessoa não paga por causa da validade de 3 horas do bilhete único, a tarifa hoje poderia ser R$ 2,03 se o Bilhete Único não existisse. Só que quem pega duas viagens ia pagar R$ 4,06. É graças ao bilhete único que ele introduziu na gestão da Marta que eu tive a honra de participar, que houve um avanço que houve.
Se nós tivéssemos seguido aquela estratégia, de São Paulo interligado e tudo mais, nós não estaríamos na situação de mobilidade que estamos hoje. E não saiu ninguém na rua pedindo corredor de ônibus, faixa exclusiva nesses 8 anos. E também muito pouca gente gritou, e aí eu ressalvo vocês, muito pouca gente gritou contra os aumentos abusivos dos 8 anos anteriores. Muito pouca gente. Ressalvei vocês, mas muito pouca gente gritou. Comparando com hoje você tinha, desculpa, toda boa causa começa assim, mas era meia dúzia de gatos pingados. Vocês nem apareciam. Então os aumentos eram de R$ 1,70 para R$ 2,00, de R$ 2 para R$2,30, de R$2,30 para R$ 2,70, de R$ 2,70 para R$ 3. Ou seja, não teve um único reajuste que tenha sido menor do que a gente deu. Todos foram maiores. Todos, sem exceção. Esse é o menor reajuste dos últimos 10 anos na cidade de São Paulo. E foi o meu compromisso na campanha, de que o reajuste seria o menor.
Agora, volta um pouquinho ali, só um minuto (slide). Eu tenho que falar uma coisa para a cidade, primeiro porque a decisão que for tomada na cidade de São Paulo vai repercutir no Brasil inteiro. Isso em primeiro lugar. Em segundo lugar, ninguém e nós temos que ser muito... esse exercício que nós fizemos.. Porque o Raí estava falando ali, o Bresser estava falando... "Poxa, simpatizei com essa demanda da liberdade de ir e vir, da gratuidade do transporte, de pessoas que não são do meu campo de atuação original e que estão dando aqui a sua opinião." Eu preciso dizer que esse cenário não é um sinal de provocação a vocês, quando a gente fala que vocês vão pleitear no ano que vem, e no outro, e no outro que não haja reajuste. Porque haverá reajuste de motorista, reajuste do cobrador, eles vão querer melhorar de vida. Vai ter reajuste do diesel, que é importado. Então, vai ter impacto nos custos. Por mais que se esprema os empresários. E nós vamos ser o primeiro aliado em quem quiser arrochar. Mas por mais que se esprema os empresários, tire do lucro, tire não sei do que, vai ter impacto. Os trabalhadores aqui são 50% da tarifa, salários de motorista e cobrador, que esse ano teve 10% de reajuste. Nos últimos 3, teve 24% de reajuste.
[interrupção - Mayara (MPL): Que estranho, porque eu pergunto a eles e eles dizem que não tiveram isso]
Então você abre mão da sua demanda se eu tiver certo? Não, né? Quer apostar? Eu estou aqui na frente de pessoas que eu respeito. Você acha que eu vou trazer para cá um dado que eu não conheça? Tem alguém do sindicato aqui? Quanto você teve de reajuste?
[Representante sindicato: 10%]
Haddad: Então pronto. Querida, eu estou dizendo que teve o reajuste e você está dizendo que não. Você entrou nos ônibus falando para os motoristas e cobradores que eles não tiveram reajustes. Esse ano, tiveram 10%. Nos últimos 3 anos, foram 24%. Você está preparada para o debate, mas eu também estou. Eu conheço a cidade. Tanto é que o cara ali está me dando razão.
O que eu estou querendo dizer para vocês é que é um cenário... Esse cenário não é uma provocação. Eu conversava ali com a presidenta do DCE da USP e eu dizia: "No ano que vem, nós vamos poder discutir um reajuste da tarifa? Revogamos esse ano o aumento. E o ano que vem? Vai ter impacto de custo. Nós vamos sentar na mesa e discutir o reajuste da tarifa?" A resposta dela foi "Experimenta para você ver." Ou seja, a resposta dela estava correta, não estou expondo... Isso dá valor a ela. Quando ela fala para mim, “o ano que vem, se você tentar reajustar, você experimenta para você ver", ela está sendo coerente com o que ela pensa e com o movimento de vocês. Ela não está sendo ameaçadora. Eu não senti como uma ameaça ou como um gesto de agressão. Eu senti o seguinte: olha, eu vou para a rua de novo. E no ano seguinte, em 2015, vou de novo. Em 2016, de novo. E se falar em reajuste, eu vou para a rua de novo.
Então é esse cenário de congelamento da tarifa em R$ 3, não é um delírio, é um exercício de como o gestor público vai ter que se preparar pra enfrentar essa nova agenda que está na rua e que a gente respeita.
Se a sociedade brasileira decidir que não vai mais pagar passagem, isso significa dizer que se meramente for congelado a passagem em três reais, em 2016, nos valores de hoje, nós vamos ter que arrumar R$ 2,7 bilhões para acomodar o sistema. Espreme todo mundo, o empresário tem 50 % de lucro?
Eu tenho que falar para a cidade a verdade. Eu não posso omitir da população a verdade, isso aqui vai acontecer. Se essa agenda for a agenda que nós decidimos fazer, não aumentar mais, eu não posso negar pra cidade: nós vamos ter que encontrar dentro desse orçamento espaço pra R$ 2,7 bilhões de custo, não adianta eu fugir disso. Eu não posso negar para a cidade de São Paulo a informação. Eu não posso negar a verdade para as pessoas, para sair bem na foto, o que vai durar uma semana. Eu não farei isso porque eu não sou assim. Eu não sou isso. Eu vou falar a verdade para as pessoas. E se as pessoas ajudarem a tomar uma decisão nessa direção, eu vou me subordinar à vontade das pessoas, porque eu sou o prefeito da cidade para fazer o que as pessoas querem que eu faça.
[interrupção MPL]
Querida, não é isso assim. Eu estou querendo dizer para você que eu vou ter que explicar para a cidade que são R$ 2,7 bilhões que eu vou ter que arrumar. Eu apresentei nesse conselho um programa de metas que esta embutido no orçamento. Eu discuti durante 90 dias um programa de metas nas 31 subprefeituras e o programa foi considerado inclusive tímido. Com razão a garota do M’ Boi Mirim quer rever o termo. Ela não quer extensão da M´Boi. Quer a duplicação e ela esta certa porque é o que a gente falou que ia fazer. Então nós vamos ter que alterar agora, para o dia 4 de julho. Essa discussão eu não escapo de fazer, com a cidade, de quase R$ 3 bilhões. Vejam vocês, vamos defender o congelamento da tarifa em R$ 3? Não vamos nos enganar, porque é disso que se trata. Essa é a agenda que esta na rua, não tem outra. Por que nós vamos nos enganar? Essa é a agenda que está na rua. Então, eu vou ouvir todo mundo. Eu ouvi aqui. A OAB entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade para quebrar a emenda constitucional que nos permitia pagar os precatórios em quinze anos. É a mesma OAB que está aqui, defendendo a revogação dos 20 centavos.
[Interrupção MPL]
Suspensão? Você é (a favor da) suspensão. Não é bem assim o que está colocado aqui. Mas os precatórios, os advogados querem à vista. Muitos credores são advogados.
[Interrupção]
Nem está na conta ainda a quebradeira da CNTC.
O que digo é que essa conta tem que fechar até 2016. Quando o Tatto falou aqui que temos de buscar fontes alternativas de recursos, temos que pensar na CIDE municipal, que é uma idéia surgiu há alguns meses e ninguém defendeu, porque é antipática. É antipático defender. Por que a Erundina perdeu a tarifa zero? Porque ela previu dobrar o IPTU. Ela previa isso. Ela perdeu o debate e não conseguiu fazer. Não é que foi uma coisa vitoriosa. Foi uma derrota. Foi uma derrota.
Então, nós não queremos aqui, como às vezes estão falando: isso aqui é para enrolar. Isso aqui não é pra enrolar. Quis apresentar para que ninguém tenha dúvida do que vai acontecer. Ninguém pode falar que tem dúvida do que vai acontecer. É isso que vai acontecer com a cidade: São R$ 2,7 bilhões que não adianta imaginar. Vai ter que sair de algum lugar, de alguma outra área para ir para o transporte. Ou aumenta a arrecadação ou aumentar a desoneração ou espreme o empresário. De algum lugar, vai ter que sair esses R$ 2,7 bilhões.
O que quero dizer é o seguinte: Em primeiro lugar, vou ouvir todo mundo com muito prazer. Eu não constituí esse conselho “para inglês ver” ou pra adular o governo. Nem para ouvir aqui elogios. Aliás, nunca recebi elogio de ninguém daqui, em seis meses. Nem tenho esperança de receber. Prefeito de São Paulo, a gente sabe a dor e a delícia que é ocupar esse cargo. Não é para isso que existe isso aqui. Isso aqui serve para gente ver o pulso, sentir a sensibilidade. Eu não sou cego. Estou vendo o que está acontecendo. Essa é uma questão nacional, não é municipal. Por mais que as pessoas falem que o prefeito tem de dar um jeito. Isso não é bem assim, porque se alguém tivesse dado um jeito, nós seguiríamos o exemplo desse pessoa. Mas ninguém deu um jeito, porque as coisas não estão bem equacionadas do ponto de vista do financiamento.
Nós vamos com base nesses dados: a imprensa vai divulgar o que estamos falando. Nós vamos dialogar. Não vou empurrar esse assunto. Vocês estão na rua. Vão continuar na rua. Não tenho intenção de empurrar esse assunto ao longo dos meses, nem das semanas. Vou fazer uma reflexão do que eu ouvi. Vou fazer uma reflexão sobre a planilha. Essa planilha vai significar menos serviços públicos na cidade e tenho que saber quais nós não vamos mais poder oferecer, porque é disso que se trata e vamos dar uma resposta para o movimento. Ponto final.
Agora, não posso, depois de ouvir, de estar aqui... Fiquei aqui o tempo todo, estou comportado, vou ouvir de novo, se precisar... Mas não posso deixar de dizer as conseqüências de qualquer decisão que eu tomar. Não posso, frei Davi. O senhor me conhece. O senhor me conhece o suficiente. Eu não tenho nenhuma intenção de empurrar esse assunto ao longo dos meses e nem das semanas. Eu vou fazer uma reflexão sobre o que eu ouvi. Vou fazer uma reflexão sobre essa planilha, porque essa planilha vai significar menos serviços públicos na cidade e eu tenho que saber quais nós não vamos mais poder oferecer, porque é disso que se trata, e vamos dar uma resposta para o movimento e ponto final.
Agora eu não posso depois de ouvir, depois de estar aqui. Fiquei aqui o tempo todo, estou comportado, vou ouvir de novo se precisar, mas eu não posso deixar de dizer as conseqüências de qualquer das decisões que eu tomar. Não posso dizer. Não posso, frei David, o senhor já me conhece. O senhor me conhece suficientemente para saber que quando eu vou para a briga por uma causa. Nós encontramos, eu e o senhor, um dia, e falamos: Vamos colocar os negros na universidade. Vejam quantos negros estão na universidade, quando eu assumi o ministério e quantos estão hoje. Então o senhor já me conhece. Eu gosto de uma causa boa. E se essa causa, se a gente entender que é essa causa, com esse formato que tem, porque tem esse formato, nós não podemos omitir, nós vamos atrás da solução. Nós vamos atrás da solução.
[interrupção – Mayara MPL - O senhor vai à nossa reunião amanhã?]
Olha, eu vou te falar uma coisa: eu tenho compromisso com uma série de pessoas. Essa tarifa foi ajustada em junho. Eu vou me reunir com vocês de novo, se é isso que você está me perguntando. Não, eu não sei se eu vou poder ir amanhã, mas eu vou me reunir com vocês e não vai ser daqui a um mês não. Eu vou me reunir com vocês.
[interrupção - Quando?]
Eu vou me reunir com vocês. Hoje é terça? Hoje é terça-feira? Essa semana a gente se reúne de novo. Entendeu, não tem dificuldade nenhuma [PALMAS]. Eu não fujo do tema. Eu não vou fugir do tema. Eu vou me reunir com vocês e vou dizer pra vocês, com tudo que eu vi, com tudo que eu ouvi, com tudo que eu senti, porque eu tenho a mesma sensibilidade de vocês e com tudo que eu estou vendo que vai acontecer, porque isso aqui é uma realidade que nem eu nem você vamos poder esconder da cidade. Não vamos esconder nada.
Fala-se em caixa preta. Eu odeio caixa preta. Se eu gostasse de caixa preta eu não traria um controlador geral para me auxiliar aqui no combate a corrupção. Eu sou professor, vou morrer professor, eu não tenho mais nada. É isso que eu sou. Nem quero ser mais nada, estou felicíssimo com o que eu sou. Eu tenho ojeriza de intransparência, de opacidade, de falta de diálogo. De corrupção, nem vou falar o que eu sinto. Povo sofrendo na rua, como é que alguém tem a cabeça para pensar em botar a mão no dinheiro público? Então, quanto a isso, você pode ter certeza. Você chame quem você quiser, a hora que você quiser, aonde você quiser, que essa Prefeitura vai prestar as informações do que for, da planilha que for. E se alguém errar, e não serei eu, nunca, isso eu posso te assegurar, você vai contar comigo para punir até as últimas conseqüências.
[Interrupção - Vai ter uma reunião de negociação para a revogação?]
Nós vamos, nós vamos... Eu quero que seja aqui, porque eu sou prefeito e eu vou chamar vocês aqui para conversar. Tá bom? [APLAUSOS] No momento eu vou chamar vocês aqui para a Prefeitura. Essa casa não é minha, é a casa do povo e enquanto eu for prefeito vai ser a casa do povo. Vocês vieram aqui e foram bem recebidos, não foram? Vão continuar sendo bem recebidos. Agora eu não vou deixar de falar com a cidade, porque a cidade tem que conhecer os números. Raí, Bresser, Emília Maricato, Frei David, a cidade tem que conhecer os números. Porque quando forem cobrar, tem que entender que tomaram a decisão junto conosco. Não dá para nós tomarmos aqui, em nome da cidade, uma decisão. Eu não vou fazer isso.
Então, nós estamos explicitando aqui os números. Não queremos que vocês se desmobilizem não, vocês estão fortes, estão bonitos, tão bem na foto. Estou feliz por vocês, te juro. Estou feliz por vocês. Acho bom e nem me importa se vocês estão certos ou não. Importa o que vocês estão pensando do país, importa que vocês estão vibrando, vocês estão com a garra e que a gente possa aqui dar um jeito no Brasil. Para mim está ótimo. Nem todas as causas que eu defendi na juventude estavam certas, eu diria que quase todas, mas nem todas. Agora, eu acho vibrante um país que sai para a rua e nós não podemos matar essa energia. Não queremos matar essa energia, não temos o direito de matar essa energia. Há muitos anos que o brasileiro vai para a rua. Muitos anos. Deixa ele ir a rua! É um lugar bacana para estar, ao contrário do que alguns pensam, a cidade vai ficar mais segura. Não vai ficar mais insegura. Vai ficar mais segura, é só a gente compreender a ocupação e dar a ela o tratamento adequado. Para ficar mais seguro, é só a gente entender a ocupação e dar a ela o tratamento adequado. Vai ficar tudo bem.
Agora eu tenho responsabilidades e eu vou honrá-las. Então nós vamos para o debate. Eu queria que a imprensa registrasse o que está acontecendo. Aqui ninguém está omitindo informação. Ninguém vai escamotear número nenhum. Vamos abrir os dados, vamos abrir o orçamento na política. Eu não vou fazer isso na técnica como estão falando. Número é número, mas é política também. E nós vamos discutir na política o que nós vamos fazer com a nossa cidade e nós vamos ajudar a cidade a tomar a melhor decisão. Nós não vamos fugir desse debate. Esse debate nós queremos, mas eu não vou omitir da cidade absolutamente nada. Quanto a isso, vocês podem ter certeza. Não virá de mim uma postura de esconder da cidade as consequências de qualquer decisão que ela tome. Obrigado a vocês.
Fonte: Prefeitura de São Paulo
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