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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Viale História

Olá, eu deixando a preguiça um pouco de lado já estava na hora de voltar a escrever meus artigos e matérias. Hoje venho falar de umas das melhores carrocerias dos últimos tempos e, porque não, dizer que é a de todos os tempos. Refiro-me a um modelo de sucesso da gaúcha Marcopolo, o Viale, que é produzido ininterruptamente desde 1998. Vamos um pouco a sua história?

A historia pode começar em meados de 1997, quando a fabricante concorrente CAIO inicia estudos para atender uma antiga reivindicação de muitos empresários brasileiros que optavam ou tinha por obrigação de fazer uso de veículos ditos Padron (GEIPOT), em que necessitava de uma valorização da carroceria mediante um chassis de grande porte. A fabricante de Botucatu/SP muito conhecida em investir em design que sempre foi um dos seus pontos mais fortes, lançava uma nova carroceria no mercado, inicialmente nos projetos internos como Alpha II Millennium e batizado oficialmente como Millennium. Assim criava para o final daquele ano uma segunda opção de modelo urbano com aplicação especial para motores centrais ou traseiros e um novo segmento urbano. Como características, pára-choques não-salientes, faróis internos integrados e um novo formato de janelas, eram algumas das inovações apresentadas com um moderno interior, em que mais tarde também ganhavam nova opção de poltronas altas, ditas como turismo.

INÍCIO: CAIO lança categoria elevada para urbanos e fez mexer a concorrência. Na foto a Ocidental no serviço do Terra Encatada em 1998.

Apesar do valor elevado, sua versão teve saída nas vendas em seus primeiros anos no Brasil. Pela região metropolitana do Rio a Tinguá e Trel, Ocidental e Paranapuan, foram algumas que motivadas pela introdução do ar-condicionado em ônibus urbano recentemente possível no Brasil à época, caprichavam nos itens de conforto e davam uma nova dimensão de serviço para ônibus, mas que não foram mais adiante em função dos valores elevados de manutenção. Na mesma época até a Ciferal sobre outro foco – que numa outra oportunidade certamente conterei -, lançava o Padron Cidade II coexistindo com a primeira versão, porém esta ultima sendo encerrada a produção. Já em 1998, durante no segundo semestre, impulsionada pelo bom desempenho da Geração V, a Marcopolo em que no ano seguinte comemoraria 50 anos, preparava quatro novos lançamentos a fim de deixar sua linha de produtos mais completa. Eram eles o Volare (minibus), Andare (rodoviário intercity), VLP2000 (protótipo do fura-fila) e, enfim, o urbano “topline” Viale.

O Viale, “Avenida” traduzindo do italiano, de início faz jus ao nome, mas levando em consideração textos publicitários e catálogos da época, muito nos parecia de início ser um modelo apenas para seguir uma tendência de diferenciação do design em relação ao Torino GV, dando a entender que os modelos mais tradicionais, de aerodinâmica reta na dianteira, poderiam ter um fim num futuro próximo. Também criado originalmente com restrições de chassis dianteiros, tipos de poltronas e alguns opcionais, com um design mais conservador em relação ao concorrente, mas nem por isso menos belo, alguns destaques podemos dizer que são a chave para seu sucesso como a área do pára-brisa maior com o painel de instrumentos recuado e fácil manutenção e a melhor das suas qualidades para superestrutura. A estrutura reforçada é considerada pelos próprios clientes um dos pontos mais fortes e diferenciado de todas as carrocerias do mercado.

O 1° Viale do Brasil(1998) para Pontur(SP). Nota-se balaústres e caixa de vista a serem modificadas

Os dois primeiros registros que datam o Viale no Brasil como fabricado em 1998 ainda na linha GV são um em versão Bi-articulados para o sistema de São Paulo/SP sob chassis Volvo B1OM EDC para empresa Campo Belo e, o outro, sob Volvo B7R, para empresa Pontur também de Sorocaba/SP. Expostos em seu primeiro catálogo de produtos. Mas no mesmo ano de seu pré-lançamento, o Rio de Janeiro ainda conheceria o seu, com a então inovadora Breda Rio, porém só operado mesmo no ano seguinte no mês de janeiro, também em chassi B10M EDC. A 1001, Pégaso, Pavunense adquiririam logo em seguida. Todos com ar-condicionado e pelo menos som ambiente a bordo. Para o mesmo ano parecendo seguir como modismo, a Busscar lançava então no final daquele ano o modelo Urbanuss Pluss derivado Urbanuss recém lançado, apenas com uma frente diferenciada, painel integrado e pára-brisas também maiores, nas mesmas condições de motorização, sendo um dos primeiros na versão low-entry usada por aqui no projeto turístico City Rio.

Como protótipos a versão Bi-articulada da Campo Belo foi também lançada na Expobus’98 em SP

Em 1999 um marco na história desta carroceria ficaria por conta do grupo Mauá de São Gonçalo/RJ, após uma grande aquisição para sua frota, um questionamento teria sido feito as restrições do modelo, segundo contam. Com muitos Torino GV novos, uma vez que se dedicou exclusivamente a ter a Marcopolo como a principal fornecedora de carroceria com uma frota quase uniformemente do modelo e, em contrapartida para Marcopolo uma cliente de peso, um pedido especial a fabricante foi feito para um versão especial em chassis OF-1721 com ar que assim foi atendida. Eis ai o surgimento do primeiro Viale com motor dianteiro do Brasil. Talvez outras empresas pedindo a mesma combinação, a versão Standard (básica) do Viale foi lançada oficialmente até o início de 2000. Posteriormente em 2001 foi a vez da EOSA de Guarulhos/SP a pedir configuração em chassis de 14t (categoria leve-média) que passaram a disponibilizar, descaracterizando ainda mais o perfil de aplicação.

O da Mauá pode ser intitulado também como primeiro dianteiro com ar do Brasil.

O sucesso inevitável não poderia ser outro no Sudeste e Nordeste. No Rio a Pavunense, Transurb e Saens Pena incorporaram a frota. Assim que surgia a nova possibilidade de configuração, a Busscar disponibilizou também para o Pluss em versão dianteira. Porém vale ressaltar que a CAIO, apesar de seus períodos de crise e falência que se iniciava a época, continuou firme e forte no Grupo Ruas em não abrir mão em ceder no projeto do Millennium como é até hoje, já na segunda geração. Com a aquisição da Ciferal pela Marcopolo fabricando o modelo Turquesa nos moldes do Torino desde 2001, o Viale passa a ser fabricado em Xerém/RJ e passou a distribuir a produção nacionalmente, a exemplo da empresa Citral da região metropolitana de Porto Alegre/RS que mesmo geograficamente mais próximo de Caxias do Sul/RS (sede Marcopolo), os seus sob OF-1417, vieram com a plaqueta de registro com origem da Ciferal naquele ano.

Lado a lado no pátio da Transurb(RJ) as sutis diferenças entre as primeiras levas.

Desde 2002 a Marcopolo lançou o Gran Viale que tão similar ao atual Torino de 2007, atualmente segue na risca no que seria o projeto original do Viale 98 só para fins especiais, embora assim como a linha rodoviária G7, tratava-se de um modelo de fabricação mundial. Tanto que primeira unidade para o Brasil foi em 2003 na versão Híbrida para São Paulo/SP. No início deste ano a Cia. Carris Porto Alegrense receberia novos “Gran Viale”, mas apenas com a inscrição “Viale”, nos passando idéia de substituição por um novo modelo de segunda geração que ainda não é confirmada, até porque a 1001 até bem pouco tempo, continuou recebendo, assim como a Mauá ainda recebe, ambos produzidos na Ciferal. Para efeito de comparação desse sucesso todo, desbancou o modelo Vitória, da CAIO, até então era a carroceria que mais tempo tinha ficado em linha de produção entre seu lançamento em 1988 até seu encerramento em 1995, todavia conhecida como uma das melhores carrocerias já produzidas no Brasil.

Um dos Viale em versão HI (Híbrida) pra empresa Gatusa de SP

O Viale, aperfeiçoado constantemente, é o mesmo produto desde o lançamento e se o tempo não esconde as linhas da idade, o que salva é seu design ainda valorizado. Depois de 2006 o Viale vem ganhando novos adereços na tentativa de se deixar jovem, como novo conjunto óptico, opcionais retrovisores e pára-lamas integrados. Algumas empresas do Rio que já tiveram o modelo antes, após um tempo retomaram as compras, entre elas Saens Peña, Jabour, Transurb, Verdun e Vera-Cruz(RJ205), por exemplo. Outra curiosidade em visita técnica na fábrica da Ciferal durante a Fetransrio é que foi revelado pelo representante de produção, que o tempo de fabricação de um Viale em configuração básica é superior em quase 03 dias ao irmão Torino, levando quase o dobro de tempo para saída da linha de montagem. Ou seja, uma unidade do Viale por mais básico que seja, levará em torno de 05 dias para ficar pronto.

O Viale na Matias

Não contei a história da mais bela carroceria a toa, se a Matias não tivesse um sequer. Enfim, não podia faltar, não é? Embora não tenhamos mais nenhum deste modelo na frota, acreditando que seja muito pouco provável que retomaria as compras dele, a Matias o possuiu em uma grande variedade de configurações e chassis.E não foram poucas as unidades.Vamos a elas:

Novidade na 232: Perguntado ao cobrador quantos eram, disse que 9 carros e se desse certo, mais viriam.

Começando timidamente ainda em 1999, os primeiros Viale da Matias inaugurava o serviço ar-refrigerado na linha 232 sob chassi Scania L-94 IB em 09 unidades. Equipados com transmissão automática, som ambiente e poltronas altas, chegaram ainda no layout verde. Quanto ao chassi, segundo um concessionário da Scania, a estranha escolha se deu após um desentendimento do Jacob Barata(também concessionário) que teria ultrapassado uma cota de chassi para aquele ano numa afronta a Mercedes-Benz á época que se negava a negociar.

1051? Na verdade 1052, sob diferença de não seguir pelo Lins.

Já as duas séries de Viale, em resposta ao conflito substituem em 2000/1 muito precocemente todos os Scania e em dobro acrescentaram para a linha 232 e a extinta 1052 – Via Dias da Cruz. Os novos veículos com mesmo nível de padrão, apesar de estarem com a prefixos de Tarifa “A” são do Urbano Tipo II(padrão SMTR) originalmente verdes, mas repintados na garagem e renumerados posteriormente. A diferença mais ligeira, além da mudança da montadora e cor, a transmissão agora era manual em chassis tipo exportação do modelo OH-1628L, entre os primeiros operados no RJ junto com os Pégaso – que também recebera Scania – e a 1001. No seu lugar entraram o micro Senior2000 (G6) em 2003.

Os primeiros Viale sem ar ano 2001 foram vendidos juntos aos primeiros Turquesas de 1999, em 2004

A terceira foi logo em seguida e talvez a dissesse como a menos lembrada da frota da empresa, com a chegada dos primeiros em chassi dianteiro OF-1721, na versão Standart. Eram em 06 unidades, que iam dos 25611 aos 25616, todos em substituição ao Senior GV da linha parcial 249E. Num padrão mais básico, mas com poltronas altas de encosto rígido como determinava a versão, em setembro de 2001 não só estrearam, mas durante toda sua vida foram operados na 249 – salvo as ultimas semanas alguns vistos na 232. Foram substituídos em 2004 por Apache Vip, também OF-1721.

Viale até na 606: conformidade com chassi de 14t, uma carroceria além da necessidade.

A quarta foi estreada em março de 2002, ousando um pouco no porte da linha 606. Foram 10 unidades sob chassi OF-1417 em 2002. O destaque ficava mesmo para o padrão unânime de poltronas estofadas do anterior, agora com encosto alto acolchoados como nos carros com ar e os balaústres encapados. Substituíam Padron Cidade I e em seu lugar, Apache Vip OF-1722-M. Destes 10, um foi perdido quando incendiado em protesto na Rua Cabuçu, no Lins, com incríveis menos de 02 meses de uso, o 25540.

A 1° leva de OF com AC começou na 1051 em março'02 e, OH remanejados para 232. A 2° leva em Outubro'02, na 232. No fim, até o serviço, terminava na 232.

Ah quinta e ultima foram as mais melancólicas, ainda em 2002 divididos em duas levas, entravam no programa de reorganização tarifária e incentivo a adoção de ônibus com ar-condicioado no Rio pelo prefeito César Maia. Na época, compressores de ar foram aperfeiçoados permitindo dividir o espaço com o motor em chassis dianteiros. Apesar de não ser o Urbano Tipo II, possuíam sistema de som ambiente num padrão muito similar de igualar aos OH-1628L. Eram os primeiros com inversão de fluxo de passageiros da empresa. Infeliz coincidência: seu fim marcava não só o ultimo Viale na Matias em 2006, mas encerrava o serviço ar refrigerado, onde tudo começou justo com um Viale. No lugar, Spectrum e Apache Vip OF-1418, em 2006.

Em 07 anos, foram num total 65 unidades de Viale que a Matias teve comprados. Sendo que do ano de 2002 e 2003 o ano em que maior parte deles coexistiu. Meu favorito era os OH’s de prefixo 25571 e 29. A principio nada diferente dos demais irmãos, mas por vezes achava que aqueles dois tinha um rendimento melhor nas ruas, principalmente na subida da Rua Lins, além de ter uma queda por veículos alongados, os chassis também ajudavam por admirar veículos padrons. Com certeza pode ser considerado o melhor de todos, não apenas pelos chassis com motores de alto giro, mas a configuração interior e o visual da pintura da gaivota esticada na lateral, no mínimo era espetacular.

No geral, creio que qualquer Viale em qualquer empresa foi marcante tanto para rodoviários que trabalharam quanto passageiros que também andaram. Um modelo com 12 anos de vida, será se devo desejar vida longa na produção?(*risos)


Resumo de Viale na Matias e empresa sucessora:
L94-IB (c/Ar)–1999 a 2000 – 09 unidades – Rápido Brasília (Brasília/DF)
OH1628L (c/Ar) – 2000/1 a 2003 – 19 unidades – Pégaso (Rio de Janeiro/RJ)
OF-1721 – 2001 a 2004 – 06 unidades – (?)
OF-1417 – 2002 a 2006 – 10 unidades – Elite (Volta Redonda/RJ)
OF-1721 (c/Ar) – 2002 a 2006 – 21 unidades – Macaense (Macaé/RJ)
Total: 65 Marcopolo Viale.

Um forte abraço, Bruno R. Araújo.

Acervo de fotos: Bruno R. Araújo, Cia de Ônibus, Supercarioca e Marcopolo.

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