sábado, 5 de janeiro de 2019

Empresas quebram paradigmas buscando fazer da crise, oportunidade


Empresas quebram paradigmas buscando fazer da crise, oportunidade

Revista Ônibus Edição nº 104
10/12/2018

Podemos classificar um paradigma como um modelo a ser seguido, um padrão aceito e adotado normalmente na forma de se fazer alguma coisa. Romper um paradigma implica sair da zona de conforto, fugir da “receita de bolo” e buscar um novo caminho, arriscando-se a novas descobertas, usando a criatividade para chegar a uma solução original e efetiva. A quebra de paradigmas normalmente significa avanço e vantagem competitiva no mundo dos negócios.

Em tempos de crise, é preciso olhar de novas formas para os antigos problemas, procurar alternativas e “pensar fora da caixa”, a fim de driblar as dificuldades. E é seguindo essa tendência que empresários da área de transporte público começam a criar estradas que lhes permitam chegar aos destinos pretendidos e cada vez mais difíceis de alcançar, visto a situação que o Brasil enfrenta.

No transporte público, cabe aos governos, cada um na sua esfera, criar e fiscalizar normas para o transporte de abrangência municipal, estadual ou federal; elaborar projetos de mobilidade, envolvendo urbanismo, meio ambiente, sinalização, mobiliário urbano, definição de tarifas e tipos de serviço. Ao operador, cabe a prestação do serviço em si, de acordo com as regras emitidas pelo poder público.

Nosso País é rico em técnicos capazes de elaborar projetos de mobilidade urbana – e muitos o fazem para cidades de outros países, com reconhecido sucesso – o que torna possível que a iniciativa privada aja proativamente, apresentando alternativas ou realizando-as, em parceria com o poder público.


Tempos difíceis

Num panorama em que os governos sofrem com verbas apertadas e em que os investimentos em mobilidade e transporte público diminuem, a qualidade dos serviços cai em decorrência de políticas tarifárias equivocadas, má condição dos pisos e sérios problemas na segurança pública, dentre outras questões. O empresariado do setor sabe que, para sair da crise, precisa garantir aos usuários viagens mais curtas, sentindo-se confortáveis, seguros, e confiando na pontualidade e regularidade do seu meio de transporte.

Para tal, porém, é necessário ter um sistema racional e integrado, contando com a atuação do poder público nas coisas em que só ele pode atuar. E quebrar paradigmas, adiantando-se aos problemas e analisando as formas de evitar uns, solucionar outros, e provocar mudanças que tragam vantagens, tanto para a população usuária, como para o poder concedente e os operadores. Enfim, como diz o ditado popular, fazer do limão uma limonada.



Como saber o que fazer?

São tantas as questões envolvidas que, à primeira vista, é difícil ao operador saber por onde começar e o que e como fazer, sem desrespeitar os limites dos contratos, uma vez que não é responsável pela determinação de itinerários, tarifas, horários e nem mesmo pelos modelos de veículos utilizados.

Para começar, um levantamento dos desejos dos usuários do transporte e dos itens necessários para o seu atendimento, seguidos de sua separação em termos de responsabilidade. Em seguida, um estudo técnico, com participação
de todas partes envolvidas e a real disposição de atuar em parceria em prol do bem comum podem ser os primeiros passos para uma solução.

No caso do Estado do Rio de Janeiro, a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros colocou sua equipe técnica à disposição das empresas, e vem realizando projetos, com vistas a estabelecer parcerias também com os órgãos reguladores. As cidades de Teresópolis e Petrópolis foram alvos de análises técnicas aprofundadas, com elaboração de projetos específicos, com alguns resultados já visíveis.

Foram feitos, inicialmente, estudos viários e levantamento das linhas da região; análise dos itinerários; coletas de dados por meio de pesquisas de campo; estudos de pontos de integração; identificação de pontos críticos; formulação de cenários futuros, com simulação e comparação com os atuais; apresentação de propostas de melhorias; levantamento das intervenções necessárias; previsão de custos e tempo de implantação do projeto, dentre outras coisas.


Foto de Carol Vegas


Ganho de tempo em Petrópolis

A gerente de Planejamento Estratégico do Setranspetro (Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários de Petrópolis), jornalista Carla Rivetti, explica que tudo começou no início de 2017, com a assinatura de acordo de cooperação técnica entre a entidade, a Federação, a Prefeitura Municipal e a Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes – CPtrans. “A partir desse acordo, passamos a fazer estudos e identificamos os pontos onde havia necessidade de melhoria. Desenvolvemos o aplicativo Vá de Ônibus para a cidade, que foi lançado este ano. Foi feita a troncalização no bairro da Posse, onde já podemos perceber bons resultados”, afirma. Esses resultados se apresentam principalmente no maior rendimento das viagens, com ganhos de tempo de até 46% no total da rede.

A Posse, porém, é apenas um dos pontos analisados no projeto. O corredor conhecido como Alto da Serra, por exemplo, tem previsão de melhoria em seis trechos, dos quais um já funcionando. Desse corredor faz parte a Rua Teresa, famosa pelo grande movimento comercial, pois é um importante polo de moda do Estado.



Pequenas intervenções, grandes resultados

O estudo sugere várias mudanças, de baixo custo, que poderão fazer grande diferença para o trânsito. Coisas como ajustes na localização de postes, mudanças de local de pontos de táxi e de estacionamento de veículos, redução de canteiro central e implantação de via exclusiva para ônibus (aproveitando parte da área utilizada para o estacionamento de veículos) e aumento da sinalização. No trecho já em funcionamento, entre as ruas Santos Dumont e Chile, a velocidade dos ônibus aumentou de 21,21 quilômetros por hora para 31,02. A diminuição no tempo de viagem foi de 36%.

Carla mostra-se otimista com os resultados, e afirma que o mais importante, nesse tipo de parceria, é que os ganhos são para todos os envolvidos. Ela acredita que, com a participação mais ativa das empresas, levando ao poder público suas necessidades, dificuldades e pretensões, este pode considerar, de forma mais embasada, as prioridades do transporte público e anseios da população, através dos dados e estudos apresentados. A participação de uma equipe técnica, capacitada a elaborar os projetos de mobilidade, economiza tempo e recursos para as prefeituras, que sempre darão, no papel que lhes cabe, a palavra final. Para o presidente do Sindicato, Isidro Ricardo da Rocha, “esta parceria não é apenas uma quebra de paradigma, mas um salto na qualidade. Uma mudança que veio oferecer um excelente nível de qualidade técnica, envolvendo muitas pessoas, todas elas focadas no mesmo objetivo. Considero que estamos abrindo o caminho para o transporte do futuro”, afirma.




Projeto para Teresópolis

Em Teresópolis, outra cidade serrana do estado do Rio de Janeiro, houve uma parceria inicial entre a empresa Dedo de Deus e a Federação. A empresa reuniu e repassou todos os dados referentes ao sistema local, linhas, número de passageiros, formas de pagamento, sistema GPS, etc. De posse dessas informações, a equipe técnica da Federação realizou pesquisas de tráfego e de transporte público, promoveu visitas guiadas por profissionais da transportadora, criou cenários de simulação, realizou estudos de intervenções viárias e foi elaborando projetos, divididos em etapas, que iam sendo submetidos à empresa e aprimorados até que se passasse à etapa seguinte.

Após se alcançar um resultado considerado ideal, o projeto final de Racionalização do Transporte Público foi apresentado à prefeitura de Teresópolis, no início do segundo semestre deste ano, para análise e verificação da possibilidade de adoção, pelo órgão, das mudanças viárias necessárias. Com a iniciativa, a administração do Município vai economizar recursos e tempo, a empresa vai ter oportunidade de apresentar ao poder concedente todos os problemas verificados no dia a dia da operação, e as possíveis soluções. E, uma vez implantadas as medidas, a população vai poder contar com um transporte coletivo mais eficiente e de melhor qualidade.



O que podemos fazer?

• Estudo do sistema viário e linhas da região;
• Análise dos itinerários;
• Coleta de dados com pesquisas em campo;00
• Criação do plano operacional de racionalização dos eixos;
• Estudo dos pontos de integração;
• Apresentação dos pontos críticos em cada eixo;
• Propostas de melhorias para o viário dos eixos relativos aos pontos críticos;
• Montagem e calibração da rede de microssimulação de tráfego;
• Formulação de cenários futuros e respectivas modelagens das soluções;
• Análise e comparação de resultados das simulações dos cenários atual e futuros;
• Apresentação dos resultados da simulação com propostas de ajustes viários;
• Propostas para efetivo funcionamento da racionalização das linhas;
• Orçamentos para adequações;
• Intervenções necessárias;
• Implantação do projeto;
• Divulgação.

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