A história da Mafersa como produtora de ônibus
Por Adamo Bazani, em 7 de janeiro de 2016.
Empresa fez veículos considerados de qualidade, inclusive trólebus, articulados e rodoviários.
Quando se fala em Mafersa, a primeira lembrança que se tem é sobre produção de composições de metrô, trens e equipamentos ferroviários.
Realmente foi para isso que foi criada a Mafersa -Material Ferroviário S.A.
A empresa foi fundada em 31 de janeiro de 1944 e fabricava rodas e eixos para ferrovias no Brasil, sendo uma das principais fornecedoras para a São Paulo Railway, a primeira ferrovia paulista, fundada pelos ingleses, que ligava Santos a Jundiaí, passando pela Estação da Luz e Paranapiacaba.
E não foram poucos os marcos da Mafersa na indústria ferroviária. Logo em sua primeira fase, conseguiu um contrato de transferência de tecnologia com a The Budd Company. A Mafersa foi a primeira indústria da América Latina a produzir carros (vagões de passageiros) de aço inoxidável.
No entanto, nos anos de 1950, a indústria automobilística se instalava com mais força no Brasil e o transporte rodoviário ganhava incentivos do governo. Esta situação começou a ser sentida pelas companhias ferroviárias a partir dos anos de 1960. Os investimentos em trilhos caíram e a Mafersa, como outras empresas, enfrentavam dificuldades. Na época do golpe militar de 1964, a Mafersa foi estatizada. O Governo Federal era o principal cliente da companhia.
Nos anos de 1970, com investimentos no Metrô, a Mafersa começou a passar por um bom momento. Com licenças internacionais e em consórcios forneceu composições e equipamentos para o metrô de São Paulo, metrô do Rio de Janeiro, RFFSA – Rede Ferroviária Federal S.A e Fepasa – Ferrovias Paulista S.A. .
OS ÔNIBUS PARA SOBREVIDA
Mas os anos de 1980 não foram tão promissores como a década anterior. Com a falência da The Budd Company, a empresa brasileira sofreu um impacto desastroso, já que fabricava utilizando, sob licença, os métodos de produção da americana.
Praticamente ninguém mais aplicava em ferrovia. A inflação e o desemprego nesta época não só afetavam o bolso dos trabalhadores, como do próprio governo, que ainda era o maior investidor em sistemas de trilhos.
Surgiu então a ideia de empresa começar a fabricar ônibus e trólebus. Movimento semelhante foi visto em outra companhia de materiais ferroviários, a Cobrasma.
Em 1985, entrava no mercado M 210 Turbo, o primeiro ônibus da Mafersa, que também começou a fabricar o trólebus M 210 Villares.
O ônibus M 210 era Monobloco, ou seja, a carroceria e o chassi formavam um mesmo conjunto. O motor era o Cummins 6CT8.3 210, o mesmo que equipava o caminhão Volkswagen 14.210 . A transmissão era ZF S 6-90 e o eixo de tração era feito pela Mafersa, com tecnologia licenciada da Europa.
A empresa foi uma das pioneiras na aplicação de freio ABS e controle de estabilidade em ônibus urbanos.
Posteriormente, outra versão mais sofisticada era o M 240 com opção de transmissão automática Alisson, com mais potência e conforto para motorista e passageiros.
Os ônibus e trólebus da Mafersa começaram a ganhar o mercado tanto pelo crescimento do setor de transportes urbanos e metropolitanos, como também pela credibilidade que tinham as marcas Mafersa e Cummins.
Ambas empresas que atuavam em parceria começaram a utilizar a reputação que tinham no mercado e a boa aceitação dos empresários como estratégia de negócios.
Uma propaganda da Cummins, por exemplo, trazia o depoimento do empresário Alfredo Willy Isaak, fundador da Leblon Transporte de Passageiros, que comprou 28 Mafersa e com os veículos ligava os municípios de Curitiba e Fazenda Rio Grande, no Paraná.
Na propaganda, a Cummins fazia questão de trazer o depoimento empresário dizendo que depois de 400 mil quilômetros rodados os motores dos ônibus não tiveram de ser abertos para passar por retífica.
No entanto, os ônibus da Mafersa começaram a apresentar alguns problemas, principalmente quando circulavam fora de corredores. De acordo com o site Caminhão Antigo Brasileiro, havia problemas com a ingestão de poeira por causa da inadequada tomada de ar de admissão e também o desgaste excessivo no mancal de encosto do virabrequim.
Os problemas começaram a ser corrigidos no início dos anos de 1990. Para se ter uma ideia, foram feitos testes na rodovia Mogi-Bertioga como relata um dos participantes do site, Evandro Fullin.
“À volta de 1992, no papel de engenheiro de aplicações da citada casa norte-americana de motores diesel, este que aqui escreve teve o prazer de trabalhar em vários desenvolvimentos do M210 e do M240, tendo inclusive participado de um memorável teste de “cooling” (arrefecimento) na serra da Rodovia Mogi-Bertioga, SP-098, ocasião em que dois Mafersa foram acoplados por um cambão, de modo a simular carga no veículo anterior do comboio.” http://caminhaoantigobrasil.com.br/category/catalogos-e-folhetos/onibus/mafersa/
Os ônibus começaram a dar uma sobrevida bem importante à Mafersa, tanto é que durante a produção destes veículos, a empresa foi privatizada em 11 de novembro de 1991: 90% de suas ações foram adquiridas pela Refer – Associação dos Funcionários da Rede Ferroviária Federal.
Diversos sistemas de São Paulo e de outros estados já contavam com ônibus da Mafersa, que marcaram, por exemplo, as operações do Corredor Metropolitano ABD, ligando o ABC Paulista às Zona Sul e Leste da capital.
A Mafersa também ganhou mercado em trólebus. Entre 1986 e 1988, em parceria com a Villares, a empresa, por exemplo, forneceu 78 trólebus para a CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos, a maior parte que operou na região de Santo Amaro, na zona Sul.
Em 1988, ainda forneceu seis trólebus para a CSTC, que era a Companhia Santista de Transporte Coletivo, empresa pública.
Os veículos operam pela Viação Piracicabana em uma linha histórica de Santos, mas a prefeitura já assinou decreto para que passem a integrar o patrimônio público.
Em 1987, a Mafersa desenvolveu um protótipo de trólebus articulado, que chegou a ser testado no Corredor ABD, hoje operado pelaMetra.
A LINHA “S” E FÁBRICA EM CONTAGEM
No início dos anos de 1990, a Maferesa transferiu sua produção de ônibus diesel para a unidade de Contagem, em Minas Gerais, e lança a Série S de ônibus, com design mais moderno e algumas diferenciações na parte mecânica.
A produção inicial na unidade de Contagem era de 30 ônibus por mês. Em 1993, a Mafersa tinha aproximadamente mil veículos de transporte coletivo sobre pneus rodando no país.
Foi na fábrica de Contagem que a Mafersa produziu não apenas ônibus Monoblocos, mas também chassis e plataformas para receberem carrocerias de outras empresas.
Com o início da produção em Contagem , a Mafersa lançou o M 210 S com câmbio manual. Já o M 240 S tinha câmbio automático.
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