Crédito: Fotos: Divulgação EMDEC
Gilson Rei
Há 100 anos, em 1912, os bondes elétricos começaram a funcionar em Campinas como ícones da modernidade e do progresso no País. Os bondes fizeram parte da história do município e foram além de um sistema de transporte coletivo.
Com o passar dos anos, o bonde deixou saudade, marcou uma época romântica e assumiu a condição de objeto cultural em relação ao espaço urbano de Campinas, que comemora neste ano 238 anos de fundação.
Para matar um pouco a saudade dos que conheceram os bondes de perto e mostrar uma parte da história aos que nasceram depois desta época romântica da cidade, a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC) preparou uma exposição virtual em seu site www.emdec.com.br com imagens do sistema de transportes que marcou época, responsável por uma parte do desenvolvimento social e cultural de Campinas.
Atualmente, quem quiser resgatar um pouco a história e conhecer o bonde que circulou pelas ruas da cidade poderá participar do passeio de 3 km, promovido pela Prefeitura aos sábados, domingos e feriados, na Lagoa do Taquaral. O passeio custa R$ 2,00. Crianças de até 5 anos e pessoas com mais de 60 anos não pagam.
MARCO DE UMA ÉPOCA
Os bondes começaram a percorrer as ruas de Campinas em 1879 com tração animal. Em 1912, os bondes passaram por um processo de modernização ao incorporar o sistema elétrico de transporte, uma energia limpa e eficaz, que garantia maior rapidez e segurança aos passageiros no início do século.
Saudosistas, especialistas e estudiosos da cidade avaliam o sistema de bonde como sendo um marco no desenvolvimento de Campinas e parte integrante da cultura e da história do município.
A Companhia Campineira de Carris de Ferro foi inaugurada em 1878 e, um ano depois, em 25 de setembro de 1879, a cidade passou a ter o serviço de bondes de tração animal, levado por mulas. Na ocasião, estes bondes levavam os passageiros da ferrovia na Praça da Estação até a Praça José Bonifácio, no Largo da Catedral Metropolitana, através da Rua 13 de Maio.
No início, a Companhia Campineira incorporou quatro carros de tração animal da Companhia John Stephenson, sediada em Nova York. Posteriormente, adquiriu mais alguns bondes desativados da Companhia Viação Paulista, usados da cidade de São Paulo que foram operados em cinco linhas.
A revolução nos bondes de Campinas começou em 1910, quando foi criada uma nova empresa, a Companhia Campineira de Tracção, Luz e Força (CCTLF) para fazer um sistema elétrico de bondes. Em 1911 encomendou oito novos bondes com dez fileiras de bancos da empresa J. G. Brill Filadélfia, e iniciou a construção de uma nova linha.
Finalmente, em 24 de junho de 1912, a CCTLF inaugurou seu sistema de bondes elétricos com bitola métrica na cidade que utilizavam uma rede elétrica de corrente contínua, tensão de 600 volts e bitola de 1000 mm, a mesma usada pelas ferrovias de maior porte, como a Mogiana.
Na década seguinte, a companhia adquiriu mais oito bondes da Brill e, em seguida, construiu seus próprios veículos baseados no modelo americano. Posteriormente, em 1923, trouxe mais oito veículos que estavam circulando na Filadélfia, nos Estados Unidos.
A cidade de Campinas ainda teve uma das poucas linhas de bonde interurbanas, o Ramal Férreo Campineiro que possuía bitola de 600 mm, uma herança da ferrovia a vapor entre Campinas e o distrito de Sousas. Com a inviabilidade de se manter os trens do Ramal Férreo Campineiro (RFC), em 18 de março de 1917 a CCTL&F decidiu comprar a empresa e desativou definitivamente o uso dos trens, finalizando a circulação da "cabrita" após 23 anos da viagem inaugural causando comoção geral nos moradores e usuários.
BONDÃO
Um serviço de bondes foi disponibilizado como alternativa para ligar a cidade de Campinas à Fazenda das Cabras no distrito de Joaquim Egídio, e em 1919 passou a circular o "bondão", apelido dado a ele por ser bem maior que os bondes abertos da área urbana.
Em frente à Estação de trens da Companhia Paulista (atual Estação Cultura) ficava o ponto inicial, de lá seguia pela Avenida Andrade Neves, passando pelo bairro Guanabara, pela fazenda Vila Brandina situada pouco antes da Estação Engenheiro Cavalcante (na época uma parada com plataforma simples e descoberta em uma das mais importantes fazendas de gado leiteiro da região) e finalmente atingia a zona rural em Sousas e Joaquim Egídio.
Em 1911 a linha é comprada pela CCTLF, foi convertida em bitola métrica e no dia 18 de março de 1917 era inaugurando o percurso de 17km. No ano de 1919 o percurso foi estendido em 15 km até o bairro rural das Cabras no distrito de Joaquim Egídio.
A linha foi adquirida em 1928 pela companhia americana Electric Bond & Share, e novamente vendida em 1946 para a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) que em 1952 vendeu para a Estrada de Ferro Sorocabana (EFS). Para a linha das Cabras a EFS comprou quatro bondes simples de segunda mão da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
No dia 30 de setembro de 1954 o sistema de bondes da cidade foi absorvido pela Companhia Campineira de Transportes Coletivos (CCTC), que contava na época com 28 bondes, 13 linhas em 26 km de percurso comprado pela prefeitura por Cr$ 3.000.000,00. A CCTC chegou a ter 58 km de trilhos implantados.
Em 10 de fevereiro de 1960 a linha da EFS até Cabras foi fechada, os 7 km iniciais se tornam a linha 14 de bondes. Com o aumento do tráfego de automóveis na cidade, o sistema de bondes campineiro passou a sofrer conflitos na área urbana, pois tinha estrutura simples.
Os bondes circulavam por ruas estreitas e utilizavam mão única. Haviam desvios em determinados pontos das rotas para permitir a passagem de outro bonde da mesma linha ocupando quase toda a largura da rua.
Por conta disso, alguns motoristas começaram a difundir a visão de que os bondes causavam transtornos, gerando a extinção das linhas em 1964.
O último bonde passou na noite da sexta-feira do dia 24 de maio de 1968 deixando saudades para muitos usuários do eficiente e limpo sistema de transporte. O bonde elétrico funcionou por 56 anos e o sistema de transporte por bondes como um todo perdurou por 89 anos.
No dia 5 de novembro de 1972 a Prefeitura Municipal de Campinas inaugurou uma linha interna circular com quatro bondes e pouco mais de 3 km ao redor da Lagoa do Taquaral, passeio turístico que se mantém até os dias atuais e garante um pouco do romantismo daquela época.
ROTA DOS BONDES
Linha n.º 1
Vila Industrial - ponto de partida na Av. Francisco Glicério, em frente aos Correios e Telégrafos, seguido pelas ruas Conceição, Barão de Jaguara, Av. Dr. Moraes Sales, Viaduto Paulista, Av. João Jorge, ruas Sales de Oliveira, Pereira Lima, Jóquei Clube, Dr. Mascarenhas, Av. Andrade Neves, Rua 13 de Maio e, por esta, até o ponto de onde partia.
Linha n.º 2
Vila Industrial - o ponto inicial era na Praça José Bonifácio (Largo da Catedral), seguia pela Av. Francisco Glicério, Rua General Osório, Av. Andrade Neves, ruas Dr. Mascarenhas, Pereira Lima, Sales de Oliveira, Av. João Jorge, Viaduto da Paulista (Viaduto Cury), Rua Moraes Sales, Av. Francisco Glicério e, por esta, até a Praça de partida.
Linha n.º 3
Guanabara - saia da Praça José Bonifácio (Largo da Catedral), seguia pela Av. Francisco Glicério, ruas General Osório, José Paulino, Barão Geraldo de Rezende, Av. Barão de Itapura, até o Liceu N.S. Auxiliadora, de onde voltava pelo mesmo percurso até a Rua José Paulino, entrando pela Rua 13 de Maio em direção ao seu ponto inicial.
Linha n.º 4
Taquaral - partia da Praça Bento Quirino, atingindo as ruas Sacramento, Marechal Deodoro, Dr. Quirino, Major Solon, Paula Bueno até a Rua Amador Bueno, de onde retornava pelo mesmo percurso.
Linha n.º 5
Estação - Circular, saía da Praça José Bonifácio (Largo da Catedral), seguindo pela Av. Francisco Glicério, Rua General Osório, Av. Andrade Neves, Praça Floriano Peixoto (Largo da Estação), Rua 13 de Maio até o ponto inicial.
Linha n.º 6
Cambuí - iniciava na Rua Dr. Quirino, descia a Rua Thomas Alves, prosseguia pela Av. Anchieta, Rua General Osório, Av. Júlio Mesquita, ruas Olavo Bilac, Santos Dumont, Cel. Quirino, Conceição, Av. Júlio Mesquita, ruas General Osório e Dr. Quirino, atingindo o ponto inicial.
Linha n.º 7
Cambuí - também circular, como o outro, partia da Rua Dr. Quirino, descia a Rua Thomaz Alves, seguia pela Av. Anchieta, Rua General Osório, sendo o restante o percurso similar ao anterior.
Linha n.º 8
Bonfim - Partia da Praça José Bonifácio, seguindo pela Av. Francisco Glicério, Rua General Osório, Av. Andrade Neves, Rua Dr. Mascarenhas, Av. Governador Pedro de Toledo e Praça Izidoro Dias Lopes, Rua Erasmo Braga, de onde voltava pelo mesmo percurso até a Av. Andrade Neves, passando pela Praça Floriano Peixoto (Largo da Estação), descendo, depois a Rua 13 de Maio até o local de partida (Praça José Bonifácio).
Linha n.º 9
Botafogo - partia da Praça José Bonifácio, seguindo pela Av. Francisco Glicério, ruas Gal. Osório, Saldanha Marinho, Hércules Florence, Culto à Ciência, Barão de Itapura, Av. Andrade Neves, Praça Floriano Peixoto (Largo da Estação), Rua 13 de Maio, até o ponto inicial. Segundo relatos, era o mais alegre por transportar grande número de adolescentes que se dirigiam ao tradicional Colégio Culto à Ciência, isto dava muito trabalho ao seu cobrador, pois tantos os meninos quanto as meninas que além da gritaria e do gargalhar, sempre contrariavam as normas estabelecidas e se amontoavam pelos estribos do bonde a fim de demonstrar valentia e descumprimento às leis.
Linha n.º 10
Castelo - o ponto de partida era na Praça Bento Quirino, seguindo pelas ruas Sacramento, Marechal Deodoro, Dr. Quirino, Av. Dona Libânia, Av. Orosimbo Maia, Av. Brasil, ruas Joana de Gusmão, Barros Monteiro, Pereira Tangerino e Oliveira Cardoso, onde estava o final da linha bem perto à Torre do Castelo. A volta era pelo mesmo itinerário.
Linha n.º 11
Avenida Saudade - Ponte Preta - Fundão - saía da Av. Francisco Glicério, em frente aos Correios e Telégrafos, indo pelas ruas Conceição, Barão de Jaguara, Abolição, Álvaro Ribeiro, Av. Saudade até o portão do Cemitério, de onde voltava pelo mesmo trajeto até o cruzamento das ruas Barão de Jaguara e Moraes Sales, prosseguindo por ela até a Av. Francisco Glicério, e por esta, até o ponto inicial.
Linha n.º 12
Bosque - partia da Av. Francisco Glicério, em frente aos Correios, seguindo pelas ruas Conceição, Barão de Jaguara, Av. Dr. Moraes Sales, Antônio Cesarino, Duque de Caxias, Padre Vieira, Rua Proença (final da linha), de onde voltava pelo mesmo percurso até a Av. Dr. Moraes Sales, quando entrava pela Av. Francisco Glicério até o ponto inicial.
Linha n.º 13
Vila dos Alecrins - Praça Municípios de São Paulo ou Praça Municípios - partia da Rua Dr. Quirino com Rua Thomas Alves, seguindo pela Rua Major Solon, Av. Orozimbo Maia, ruas dos Alecrins, Antônio Lapa, Capitão Francisco Paula, Querubim Uriel, até a Vila Estanislau, seu ponto final. Voltava pelo mesmo itinerário.
Linha n.º 14
Boa Esperança - Esta foi a linha estabelecida pela CCTC para repor a antiga linha da CCTL&F. Praticamente era de percurso idêntico à linha original da CCTL&F. Seu ponto final era no bairro Boa Esperança, conhecido vulgarmente na época por "Fura Zóio". Essa última parada ficava a poucos metros dos limites da fazenda Vila Brandina, por onde anteriormente os trilhos continuavam seu caminho em direção ao distrito de Sousas.
Fonte: Prefeitura de Campinas
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