sexta-feira, 16 de março de 2012

Não basta dirigir o ônibus. É preciso fazer malabarismos

Usuários do transporte público relatam que alguns condutores 
desconhecem o itinerário da própria linha

Exercer a função de motorista nas linhas intermunicipais e municipais de Santos, operadas pela Viação Piracicabana, vai além do simples ato de dirigir. Os trabalhadores precisam ter total atenção, em um trânsito cada vez mais complicado, e são obrigados a exercer a função de cobrador.

Os condutores têm uma jornada de trabalho que ultrapassa as 44 horas semanais, enfrentam o calor no interior dos veículos e a má educação de alguns passageiros, segundo relato dos próprios funcionários.
Não é à toa que a quantidade de afastamentos na empresa desde 1998, somente nessa função, é alta: 309. Desse total, 36,9% (114) foram aposentados por invalidez pelo INSS. Outros 181 receberam ou ainda ganham auxílio-doença e 14 estão licenciados por acidentes de trabalho.

Os dados são da gerente de Transportes Públicos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Santos), Dalvaní Pereira da Silva, e fazem parte da resposta a um requerimento apresentado pelo vereador Sadao Nakai (PSDB), no mês passado.

Além disso, dos 882 condutores da concessionária, atualmente 134 estão afastados do serviço (15,2%). Estes são responsáveis por operar uma frota de 305 coletivos (21 ônibus são reservas).

Para agravar ainda mais tal situação, o vereador, com base na resposta da CET-Santos, disse que foram registrados 163 pedidos de desligamento e 123 demissões na empresa nos últimos dois anos.

Esse conjunto de dados pode ajudar a explicar outro fenômeno observado por muitos usuários das linhas municipais e intermunicipais: o desconhecimento dos itinerários.

Um fato chama a atenção na resposta recebida por Nakai. Após a liberação para a direção, o motorista sai como passageiro. No segundo dia, conduz o veículo, sob a orientação de outro funcionário. “Aprender o trajeto em apenas dois dias é algo assustador”, diz.

Diante dessa situação, o parlamentar acredita que a Piracicabana não está garantindo a eficiência no serviço, após a retirada dos cobradores. Para ele, as condições de trabalho a que os condutores são submetidos se refletem nos pedidos de desligamento e dificuldade para repor essa mão de obra.

“Com as respostas da CET-Santos, detectei que há um número insuficiente de trabalhadores para atender as linhas com eficiência. O Governo Municipal precisa cobrar melhorias”, afirma.

Relatos

Em meados de janeiro, uma secretária escolar aposentada do Campo Grande tinha uma consulta médica marcada no Embaré e decidiu tomar um ônibus para voltar para casa.

Ela revela que ficou surpresa com o fato de o motorista da linha 139 desconhecer o itinerário. “As pessoas tinham que gritar para evitar que pegasse as vias erradas. Ela quase virou por engano no Canal 4 e na Avenida Conselheiro Nébias”.

E completa: “pensei que era um fato isolado, mas passei a perceber que muitos se queixam disso. Eles deveriam treinar mais antes de cair nas ruas”.

O problema não está restrito aos coletivos santistas. “A situação piorou nos últimos anos. A gente fica irritada na hora, mas sabemos que eles são vítimas de um processo”, explica uma cuidadora de idosos que usa uma linha intermunicipal.

Outro usuário de ônibus intermunicipal também se queixa. “Alguns desconhecem até nome de ruas movimentadas. Já vi turistas irritados por não receberem a orientação adequada, o que é um fator negativo para a nossa região”, diz. 

Texto: Sandro Thadeu

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